Graduada em Física (UFRJ), mestre em Informática na área de Metodologias e Técnicas da Computação (UFRJ) e doutoranda em Informática na área de Gestão de Sistemas Complexos (UFRJ). Faz parte do grupo de pesquisas LabSocial do Instituto de Computação da UFRJ, que desenvolve pesquisas nas áreas de Interação Humano-Computador e Trabalho Colaborativo com Suporte Computacional.
Luciana também é especialista em Educação à Distância, área em que atua como designer instrucional, atualmente como servidora pública na Fundação Centro de Ciências e Educação Superior à Distância do Estado do Rio de Janeiro, uma fundação vinculada à Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio de Janeiro.
O QUE TE FASCINA NA SUA PESQUISA?
O grupo de pesquisa LaBSocial tem uma vocação importante para a pesquisa em Interação Humano Computador (IHC) e trabalho colaborativo com suporte computacional (CSCW). Nós investigamos a computação centrada no usuário, desenvolvendo sistemas para satisfazer necessidades humanas e apoiar a colaboração entre pessoas. Também estudamos diferentes comunidades para construir com elas projetos de computação, ensino em computação, design educacional e sistemas que promovam a sua emancipação frente às diversas situações de opressão presentes na sociedade.
As áreas de IHC e de CSCW já têm mais de 25 anos de existência no Brasil. O surgimento dessas áreas de investigação no Brasil e no mundo foi uma consequência da possibilidade de conexão entre computadores geograficamente distantes por meio das redes de telecomunicações lá na década de 90. A conexão, contudo, também trouxe contradições quando, nos últimos 20 anos, o poder de processamento dos computadores foi aumentando e, assim, surgindo a possibilidade de processar grandes volumes de dados. Esse poder de extrair valor e consequentemente mais valia (lucro) da interação humana com os dados foi e tem sido usado indiscriminadamente pelas Big Techs.
Nesse contexto, o nosso currículo brasileiro na área de interação humano-dados não tem se desenvolvido a tempo de permitir que a sociedade interaja de forma crítica com os dados. O exemplo mais impactante disso foram os problemas que tivemos com a disseminação de fake news durante as últimas eleições presidenciais.
O que me encanta na minha pesquisa é a possibilidade de criar meios para que a educação no campo da interação com dados aconteça para todos os cidadãos. Isso é algo que tem o poder de fortalecer a democracia, e tanto o nosso país quanto a América Latina têm precisado muito disso, dadas as investidas do fascismo e do crescimento da ultra direita. A verdade é que neste momento tem sido mais uma missão de vida do que um encantamento, porque ainda estou em uma fase inicial da minha pesquisa na qual tenho constatado o aprofundamento da divisão social que o saber e o não saber lidar com dados tem gerado. Essa constatação traz uma insatisfação enorme com as decisões de política e de gestão educacional que têm sido adotadas no nosso país, nas diversas esferas de governo.
O que mais tem me fascinado neste tempo é poder interagir com pessoas e profissionais de diversas comunidades partes integrantes da geografia da minha cidade.
Entre essas pessoas há crianças, adolescentes, trabalhadores de diversas áreas, entre eles também pesquisadores, professores e ativistas que se encontram na linha de frente do uso de dados para criar possibilidades para que grupos marginalizados possam expressar os seus desejos por meio de dados. Do mesmo lado dessa trincheira, há também outros pesquisadores igualmente incríveis de diversas linhas da IHC que estão criando a área de interação humano-dados no Brasil através de pesquisas em seus subcampos como, só para citar alguns exemplos, a proteção de dados, a ética em Interação Humano-dados e a literacia de dados – também chamada de alfabetização em dados, que é o meu campo mais específico de atuação.
Me ver como parte dessa comunidade tão diversa e atuante e como uma mediadora para fomentar o seu crescimento me alimenta com afeto e me deixa um pouco mais otimista quanto ao futuro, porque são muitas pessoas que cultivam valores como a pluralidade, a inclusão e o amor enquanto conjuntos de ações coordenadas praticadas para a emancipação humana.