A reportagem “Pupila Dilatada: Entre o Real e Virtual” revela o movimento do coletivo de artistas de arte digital que, no pós-pandemia, amplia o alcance de suas ações a partir dos encontros presenciais – reinventando suas trocas e criações. Essas redes, hoje, criam acessos a lugares de pertencimento para comunidades que dialogam além das fronteiras do real e virtual. Conheça, ao longo do texto, o trabalho do coletivo Pupila Dilatada – um coletivo, metaverso e exposição de artistas digitais que reúne 70 artistas nacionais e internacionais.
A Pupila Dilatada é uma exposição de arte digital psicodélica, surgida em 2021, durante a pandemia, a partir de um edital com 200 inscritos, no qual 70 foram selecionados. Idealizada na web3 por uma rede de artistas independentes, expôs obras inéditas.
”Foi uma experiência que foi construída virtualmente e com a pandemia foi realçado, encontros virtuais que tinham afetos reais”
O coletivo criou um grupo no Discord – um aplicativo gratuito de comunicação que permite que você converse por voz, vídeo e texto, que é muito utilizado por comunidades criativas. Dele, fazem parte os 70 artistas e 15 organizadores, sendo a maioria do Brasil, mas não só. A curadoria que fez a seleção desses artistas se baseou em arte psicodélica como recorte curatorial.
“A Web3 se mostrou como um lugar onde é possível “viajar”. Nos reunimos em eventos de lançamento e festas, com profissionais que trabalham com games, grafitti, arte contemporânea, arte digital, música, DJ’s, dança, performance. Durante este período houve encontros virtuais com DJs, A/V performances e exposições no metaverso e, após a pandemia, IRL (in real life)” – conta Pinax, curadora da exposição.
Ainda no mesmo ano, surgiu a segunda edição da exposição, ainda em ambiente virtual, mas dessa vez, abrigada no metaverso ancorado no Arium. Arium é uma plataforma lançada pelo fundador Kosha, que foi o responsável por lançar a exposição na blockchain Tezos, que permite hospedar projetos. Essa foi a primeira exposição de arte que aconteceu nessa blockchain.
Os encontros IRL – uma abreviação em inglês para “Na Vida Real – começaram a ocorrer em 2022, com a possibilidade de encontros presenciais. Foi a partir daí que as criações ganharam novos formatos.
“O Pupila 3 buscou trazer essa conexão que o real traz, porque já havia terminado o período de lockdown, e isso mostrou outra realidade. Se não houvesse a pandemia, provavelmente não teria sido igual. Ainda mais porque após a abertura, deu vontade de se encontrar, do contato humano. Foi uma experiência que foi construída virtualmente e com a pandemia foi realçado, encontros virtuais que tinham afetos reais” – diz Pinax.
Diversas participações foram realizadas em instituições e eventos, como “Hack Tudo”, que ocorreu no MAM. Apresentaram 2 instalações de LEDs de 3×3 metros e ainda outra com 20 TVs, também com live-performances de VJs. E, além do presencial, o evento teve complemento no Arium, de forma imersiva, com lives e performances, e, ainda, festa. A partir daí, foram feitos diversos outros, como a instalação no hall do hotel Selina, no Comuna Bar, na Wired Fest.
O universo virtual no qual surge o Pupila Dilatada está localizado no cenário da arte independente digital. É na Hic et Nunc que ela surge. Uma plataforma que permitia venda e troca de arte – por meio de NFT’s. A plataforma cresceu e se tornou a atual Tezos, uma das principais do Sul Global. Neste ambiente, as trocas eram entre artistas, semelhante a conhecida Feira Plana, que acontecia em SP, em que artistas vendiam para outros artistas, sem foco especulativo comercial. Era o que se chama Clean NFT (NFT de baixo custo).
Embora esse universo esteja relacionado à especulação comercial dos NFTs, existe essa cena independente com outros coletivos pelo mundo, contemporâneos ao Pupila Dilatada. Como, por exemplo, o coletivo DigitalDubs com o projeto “cryptorastas”, coleção pfp que une personagens lendas do reggae com NFT de arte generativa.
A questão reúne diversas críticas como a superficialidade, o apelo comercial e o gasto de energia. Apesar disso, é um movimento que proporciona a sustentabilidade de artistas, até mesmo durante a pandemia.
Entre os debates atuais que giram em torno desse universo, está o uso do termo “digital”. O coletivo Pupila Dilatada busca se afirmar nas instituições como arte (apenas, sem o termo adjetivo), pois acreditam que os artistas têm que estar em pé de igualdade com os artistas contemporâneos, como os artistas modernos. Isso acontece no cenário internacional, os brasileiros buscam esse reconhecimento.
Embora o contato entre os artistas tenha se expandido com o retorno das atividades presenciais no pós-pandemia, o universo virtual nunca perdeu sua força, inclusive, segue cada vez mais dinâmico.
“O contato virtual também é interessante porque é constante. Como por exemplo quando um artista lança obras e posta no Twitter, no Discord, ali tem os comentários, as pessoas vão se comunicando, mantendo contato virtual. Essa constância é muito importante.” – afirma Pinax.
Os universos virtual e presencial colidem e se tornam uma extensão do outro para esse grupo. Um universo ainda muito pouco conhecido pelo público amplo, mas que expande pouco a pouco, em constante movimento.