Viemos de macacos ancestrais.
Mas por que ainda há polêmica em torno desta afirmação?
A confirmação vem do conceito de ancestrais comuns. Um conceito que explica a forma e a organização da biodiversidade, que é fundamental para a biologia evolutiva e para fazer da biologia uma ciência. A polêmica se dá, provavelmente, porque há muitos conceitos sobre biologia evolutiva que ainda parecem confusos para públicos em geral, conceitos divulgados de forma incompleta, sem contextos históricos, ou até mesmo, divulgados de forma tendenciosa para um ou outro fim.
Estamos hoje cercados de polêmicas em torno da ciência e inseridos num emaranhado de outros conhecimentos e cenários sociais e culturais. Mais do que nunca, experimentamos polarizações de todo tipo: inteligências humanas e artificiais, ligeiras e descomedidas, misturam opiniões com ciência, política com religião. Estamos imersos em temas diversos, debates que envolvem os conceitos de verdade, realidade, liberdade de expressão, complexidade, tamanho de população, igualdade, passado histórico (apenas um?), ecologia, ancestralidade, futuro…
São muitas informações acessíveis e sem filtro, que servem a muitos e diferentes propósitos. E que frequentemente nos deixam inquietos e nos perguntando se estamos sendo influenciados e conduzidos por caminhos que mal sabemos para onde vão.
Neste sentido, a ciência, definitivamente, pode ser um caminho confiável para nos entendermos melhor como humanos. Mas para que possamos ampliar nossos horizontes, ela precisa estar dentro de contextos.
Voltemos então a afirmação: viemos de macacos ancestrais!
A explicação é simples: Viemos, nós e os macacos atuais, de um ancestral comum. O ancestral de todos os macacos, que era arborícola, deu origem a todos os macacos atuais e aos humanos. A confusão se instala porque chamamos o ancestral comum e os macacos atuais, nossos parentes, todos de macacos, e nós, de humanos. Mas isso é apenas porque somos nós que escolhemos os nomes de todos! Imagine se os chimpanzés estivessem contando essa história: eles iriam chamar também os ancestrais de humanos e só eles teriam um nome diferente.
A confusão piora porque a imagem mais conhecida sobre evolução humana é também uma das mais mal interpretadas de todos os tempos:
Nesta figura, parece que os chimpanzés atuais deram origem aos humanos. Isso não é verdade. Na realidade, os primatas ancestrais deram origem tanto aos chimpanzés como aos humanos. O ancestral não é nenhuma espécie viva, nem chimpanzés, nem humanos, seria uma outra espécie que já foi extinta. Essa espécie ancestral, por conta de um distúrbio ambiental, foi separada em duas partes que pararam de se cruzar. Uma parte evoluiu se tornando humanos atuais enquanto a outra evoluiu e se tornou chimpanzés atuais.
Essa divisão de uma espécie em duas espécies é denominada de especiação e marca o ponto fundamental de evolução: A evolução não é uma linha, como mostrada na figura acima, ela é uma árvore como mostrada abaixo. Análises de DNA de primatas mostram uma hierarquia de similaridade, nas quais as sequências de chimpanzés são mais semelhantes com as sequências de humanos, do que com as de gorila, por exemplo. Isso porque chimpanzés e humanos tem um ancestral comum mais recente do que qualquer um deles com gorila.
O tempo no qual viveu o último ancestral comum explica a hierarquia na similaridade entre genomas, morfologia e fisiologia das espécies atuais. Assim, duas espécies atuais com um ancestral mais recente, como humanos e chimpanzés, vão se assemelhar mais pois elas eram a mesma espécie há pouco tempo. Por outro lado, duas espécies atuais com um ancestral comum mais antigo, como humanos e galinhas, vão se assemelhar menos, pois elas já deixaram de ser a mesma espécie há muito tempo.
A credibilidade da ciência implica em entender que ela se distingue das outras formas de conhecimento humano, pois o método científico inclui aspectos obrigatórios para que explicações, resultados, observações, e conclusões sejam considerados científicas. Por exemplo, o método científico inclui testes estatísticos, usos de controle, validações em duplo cego e outros aspectos que vão aprimorando o próprio método de fazer ciência. É um processo autocorretivo que renova explicações sobreviventes e substitui as que falharam nos testes, aumentando nosso conhecimento preditivo sobre o nosso planeta e sobre nós mesmos.
Esta credibilidade não se traduz em acreditar em inflexibilidades e verdades absolutas, mas, ao contrário, em entender que este é um fazer que acompanha novas interpretações e avança tecnologicamente, para que se incluam as novidades.
É ainda importante perceber que o conhecimento não se limita a nenhuma área, pelo contrário, as ciências biológicas, físicas, matemáticas, juntas as humanas e sociais com todas as suas divisões – a teologia, as artes, a psicologia, e ainda somadas a conhecimentos e saberes não científicos, são janelas para ver o mundo que se sobrepõem e se complementam. É com estas lentes que podemos ver um panorama muito mais ampliado e divertido do mundo e das possibilidades de passado e de futuro.