Uma visão inclusiva na Biologia compreende a diversidade como uma força fundamental impulsionadora da evolução. Esta perspectiva não apenas reconhece e celebra a variedade de formas de vida em nosso planeta, mas também promove ativamente a interconexão e a coexistência entre elas.
Me pareceu bem oportuno para uma edição sobre inclusão, interconexão e coexistência, escrever sobre os… Fungos (?!). Calma, você vai entender. Um exemplo bem bacana dessa abordagem é a iniciativa FF&F (Fauna, Flora e Funga), que busca o reconhecimento internacional do reino dos fungos como parte integrante dos organismos macroscópicos da Terra. Essa iniciativa defende a inclusão de mais um “F”, para a palavra “funga”, junto com “flora e fauna” para refletir a importância dos fungos para a saúde dos ecossistemas.
Organizações como a Fungi Foundation estão empenhadas em garantir que os fungos sejam reconhecidos como os interconectores vitais da natureza, buscando protegê-los em pé de igualdade com animais e plantas nos quadros legais de conservação. A relevância dos fungos para a biodiversidade também foi enfatizada por cientistas que publicaram uma carta na Revista Science pela inclusão de todos os fungos nas metas globais de conservação, por ocasião da Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade (COP15) em 2021.
Mas então, é para tanto mesmo? Bom, não tenham dúvidas. Os fungos constituem uma categoria tão ampla quanto animais ou plantas, e são tão absolutamente fascinantes e essenciais para a vida no planeta que fica difícil escolher o que falar em apenas duas páginas. Os cientistas que os conhecem mais profundamente dizem que eles sustentam toda a vida como a conhecemos. Os fungos parecem ter as curiosidades mais apaixonantes da Biologia, aquelas que colocam a ciência lá naquele lugar de aventura, de mistério, das possibilidades inimagináveis.
O papel fundamental dos fungos na moldagem do ambiente em que vivemos e sua contribuição para a evolução de outras espécies, como na transição das plantas da água para a terra, têm sido cada vez mais reconhecidos nas últimas décadas. Suas interações simbióticas com plantas ampliam a capacidade das árvores de explorar o solo em busca de água e nutrientes, contribuindo para o equilíbrio dos ecossistemas. Além disso, os fungos atuam como decompositores, reciclam matéria orgânica e desempenham papéis vitais na prevenção das mudanças climáticas. São capazes de decompor plásticos e produtos petroquímicos, além de remover metais tóxicos do ambiente. Os fungos também têm impactos culturais, científicos e alimentares significativos, como os cogumelos psilocibínicos, conhecidos por sua capacidade de induzir experiências místicas, e as leveduras, utilizadas na produção de alimentos como pão, cerveja, vinho, chocolate, café e muito mais!
À medida que exploramos mais sobre os fungos, torna-se evidente sua importância e a necessidade de incluí-los nas políticas de conservação, ao lado de animais e plantas.
Entre documentários e tantas outras iniciativas de divulgação científica sobre fungos, deixo como dica o livro “A Trama Da Vida – Como os Fungos Moldam Nosso Mundo, Afetam Nossas Mentes e Determinam Nosso Futuro”, de Merlin Sheldrake, que oferece uma perspectiva fascinante sobre o mundo dos fungos e sua influência na vida na Terra. Essa obra destaca a complexidade e a beleza desse reino diverso, convidando-nos a refletir sobre uma mudança na nossa percepção, colocando o foco não apenas no ser humano, mas também na Terra e em seus organismos como um sistema interconectado.