Ilustração: Camilo Martins
Robson Costa tem doutorado e mestrado em Memória Social, na linha de memória e linguagem pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. É bacharel em Biblioteconomia pela mesma universidade. Atualmente é professor adjunto do Curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Trabalho com pesquisas no campo da competência em informação, cultura, questão racial, sistemas de classificação documentária, mas, especialmente no campo da construção de memória em linguagens de gêneros discursivos específico, como é o caso das histórias em quadrinhos, seu objeto principal de pesquisa desde 2004.
O QUE TE FASCINA NA SUA PESQUISA?
Acho que comecei a me interessar pelo campo da pesquisa ainda na graduação quando fui estagiar em uma biblioteca universitária especializada em questão racial no Brasil e na África. Era uma biblioteca essencialmente voltada para pesquisadores de pós-graduação. O espaço era frequentado por pesquisadores do mundo inteiro e o que eu aprendi ali, ainda como um aluno de graduação, foi indescritível. Tive contato com pessoas do Movimento Negro e participei de muitos eventos, além, claro, analisar muitas teses e dissertação para classificação e catalogação.
Ainda na graduação, fiz uma disciplina optativa chamada Informação, Memória e Documento, onde conheci minhas futuras orientadoras e que me fez querer tentar o mestrado logo após a graduação. Como era apaixonado desde a infância por histórias em quadrinhos e vi que existiam pesquisas sobre o tema no país, incluindo o maior núcleo de pesquisa de quadrinhos do país, na USP, fiz um TCC e fui para o mestrado com a temática das histórias em quadrinhos.
Dei início ao mestrado em memória social em 2005, na linha de pesquisa sobre memória e linguagem, onde tive meus primeiros contatos com a sociolinguística e com os gêneros discursivos trabalhados por Mikhail Bakhtin. Fiquei fascinado em como os estudos da linguagem me fizeram ver as pessoas, a sociedade – e meu papel nela – de outro modo. Percebi o quanto a relação entre memória, informação e linguagem é de suma importância para trabalharmos diversas questões sociais. E, como sempre me interessei pela indústria cultural, e os produtos oriundas desta, percebi o quanto essas produções e seus discursos têm o poder de construção de sentidos na sociedade – para o bem ou para o mal – e como estes são relevantes nas nossas construções de memória, dos conceitos e preconceitos, das visões de mundo do nosso dia a dia.
Como diz a máxima: não existe discurso inocente. No tocante às histórias em quadrinhos me interessei muito pelo universo dos super-heróis e achei gratificante, enquanto pesquisador, perceber o quanto as narrativas desse gênero discursivo possuem uma importância social na história ocidental das últimas 80 décadas muito mais relevante e profunda do que eu imaginava quando era apenas um leitor. Por isso, no doutorado, trabalhei com as adaptações cinematográficas de histórias em quadrinhos de super-heróis, como um fenômeno industrial e cultural do século XXI.
No momento atuo, na Rede Coinfo, ligada ao campo da Competência em Informação e que reúne pesquisadores de várias instituições como UFRJ, UniRio, FioCruz, IBICT, onde desenvolvemos pesquisas e projetos de extensão em escolas públicas sobre o papel da informação e da produção científica para uma sociedade mais justa, humana e desenvolvida. Pretendo começar em breve, na Rede Coinfo, um projeto que relacione a o papel dos gêneros discursivos das histórias em quadrinhos e do cinema, enquanto instrumentos de construção de memória associados à competência informacional em escolas públicas do estado do Rio de Janeiro, trabalhando a questão discursiva dessas produções com temas sociais de questão de raça e gênero ligados à construção de conhecimento científico.