Sean T. Mitchell tem um doutorado em antropologia sociocultural e um mestrado em ciências sociais pela Universidade de Chicago e graduação em filosofia pela Universidade Rutgers. É professor associado de antropologia na Universidade Rutgers em Newark, NJ. O seu trabalho é baseado em investigação etnográfica e enfoca as políticas de desigualdade, especialmente no Brasil. O eixo que percorre todo o trabalho de Sean é a tentativa de compreender como e por que as pessoas conceitualizam e atuam sobre a desigualdade em maneiras que mudam historicamente.
O QUE TE FASCINA NA SUA PESQUISA?
Eu me sinto extremamente abençoado por ser alguém dos Estados Unidos que, nas últimas duas décadas, se tornou um estudante da so-ciedade, cultura e política brasileira. Tenho agora muitos laços profundos com o Brasil e muitos amigos próximos. Comecei a estudar o Brasil porque ganhei uma bolsa para estudar a língua portuguesa quando começava os meus estudos de doutoramento na Universidade de Chicago. Isto me levou a ler profundamente sobre a história e as ciências sociais brasileiras e eventualmente a desenvolver um projeto para a minha dissertação de doutoramento que se baseou em pesquisas no Maranhão.
Estudo a forma como as pessoas compreendem a desigualdade social. O Brasil, infelizmente, tem muita desigualdade, tal como os EUA. Os dois países são um caso comparativo importante, com histórias semelhantes de colonialismo europeu em terras indígenas americanas, de migração forçada de povos africanos escravizados e de migração maciça nos séculos XIX e XX.
No entanto, apesar de muitas semelhanças, as formas de nacionalismo, racismo e desigualdade de classes de gênero que se desenvolveram nos dois países são extremamente diferentes. Acho isto fascinante, tal como os meus estudantes aqui nos EUA. Por exemplo, quando ensino sobre as formas como o racismo e a raça se desenvolveram no Brasil, obriga os meus alunos a reexaminarem alguns dos seus pressupostos sobre a raça e a desigualdade nos Estados Unidos.
“Compreender como as pessoas percebem as desigualdades que moldam as suas vidas é um tema de investigação importante e, para mim, é infinitamente fascinante.”
As formas como as pessoas compreendem as desigualdades – como as justificam e como pensam que podem ser mudadas – não podem ser compreendidas apenas a partir de dados económicos, mas precisam de ser compreendidas através de métodos qualitativos, tais como a investigação etnográfica, que envolve a participação e a tenta-tiva de compreender a vida das pessoas.
O meu primeiro grande projeto, desenvolvido a partir da minha dissertação de doutoramento, resultou no livro “Constellations of Inequality: Space, Race, and Utopia in Brazil” (Imprensa da Univer-sidade de Chicago, 2017). Estou trabalhando para que seja publicado em tradução portuguesa. O livro é um estudo dos conflitos que envol-vem o Centro de Lançamento de Alcântara, em Alcântara, Maranhão. O Centro de Lançamento é uma parte crucial do programa espacial brasileiro, e existe um conflito de longa data com as comunidades quilombolas da região. A política internacional do local é também muito complexa. Um acordo controverso para a utilização da base foi assinado com os Estados Unidos em 2000, mas não foi ratificado no congresso brasileiro. Um acordo semelhante foi finalmente assinado por Bolsonaro e Trump, e depois ratificado. A investigação da história controversa do site me permitiu compreender como as mudanças na política de desigualdade em diferentes escalas (entre nações, entre indivíduos e entre grupos sociais) tinham mudado no Brasil ao longo de três décadas.
Na minha recente pesquisa, trabalhei no Rio de Janeiro. Em colaboração com investigadores que trabalham em São Paulo e Recife, estudámos a ascensão e queda do que em tempos foi chamado a “nova classe média”. Estas são as dezenas de milhões de pessoas que saíram da pobreza durante a primeira década e meia deste século, para sofrer uma pobreza renovada nos anos que se seguiram. O livro que estou agora escrevendo examina como as pessoas nesta “nova classe média” compreenderam tudo isto e como este processo impactou a política brasileira. Infelizmente, o nosso planeta continua a ser brutalmente desigual. Assim, compreender como as pessoas percebem as desigualdades que moldam as suas vidas é um tema de investigação importante e, para mim, é infinitamente fascinante.