Dados, imagens, planetas, aviões… Tudo está e parece estar em movimento neste exato momento. O aqui e agora. É cada vez mais difícil de ter uma exata apreensão. O contemporâneo é, literalmente, definido por esse fluxo de interações em movimento. E essa mesma definição também está se movendo.
Vivemos o “power paradigma”, uma inovação em velocidade e escala de progressão geométrica. Não só vemos, mas criamos e mimetizamos constantemente avatares de nós mesmos. Uma rotina de monetização de nossas próprias entidades imagéticas que compõem um nós conectados em rede, com a “ajudinha” de dados e algoritmos.
Personas e ambientações são virtualmente idealizadas e desenvolvidas coletivamente em comunidades digitais, cada qual com suas ideologias e modus operandi. Disputas de narrativas se proliferam e usam um vocabulário repetitivo na mais completa harmonia de um grupo de Zap. Universos paralelos e realidades cognitivas diversas coexistem no plano físico e digital, geridos pela utopia da horizontalidade e a realidade de uma “ética avatar”.
O boom do “metaverso” – plano virtual – conceito de Stephenson (1992) foi reeditado com o rebranding do Facebook e trouxe ao mainstream o mais promissor fenômeno emergente. A realidade aumentada (AR) exigirá revisões consideráveis em muitas das ferramentas que usamos, bem como nas que precisaremos no futuro, como hardwares e dispositivos com muito mais poder de computação.
Metaversos e experiências imersivas se agarram aos sentidos hápticos na busca de uma economia da atenção e engajamento. Surgem, a cada dia, conexões neurais com novas humanidades para além dos sujeitos criadores.
A web3 se apresenta como uma estrutura descentralizada em rede e em construção. Será a próxima terra (já) à vista dos entusiastas e especialistas em tecnologia. O metaverso, um dia, se tornará o sucessor do website e plataformas de mídias sociais. Tem a possibilidade de alterar o equilíbrio de poder entre gigantes da tecnologia, desenvolvedores independentes e usuários, em muito pouco tempo. A desmaterialização da vida cotidiana, acelerada pelas recentes crises globais, facilita acessos remotos à medida que aumenta abismos no tempo e espaço.
Novos arranjos e apropriações do código gerado a partir de inteligência artificial de escrita, leitura e aprendizado de máquina sentencia randomicamente o destino de identidades, sujeitos e subjetividades. Com pouca ou nenhuma discussão pública a respeito.
Todas essas novidades foram programadas por seres de carne e osso. Novos desafios para o sujeito e a sociedade vêm à tona. O território sem humanidade é memória RAM. Não tem álbum de recordações. É um acesso temporário de informações que se cruzam por um acaso programado.
Chegamos na web3 com o novo que não é só a tecnologia. É uma nova chance de refabulação da conexão em rede. De pensar um futuro próximo, do que a sociedade quer construir ou do que, simplesmente, conseguimos fazer junto.
Que sejam processos emancipadores e descentralizados de fato.
QUEM É JULIANA FASUOLO
Juliana Fasuolo é mestre em Estudos Contemporâneos das Artes e curadora do Metaverso Delírios Digitais, em exposição na Bienal de Arte Digital, no Oi Futuro, Rio de Janeiro.