Em novembro de 2018, a Agência Internacional de Energia Atômica – IAEA, vinculada à Organização das Nações Unidas publicou o artigo chamado “Toward closing the gender gap in nuclear Science” (Rumo a fechar a lacuna de gênero na ciência nuclear) que falava sobre a baixa participação de mulheres na área nuclear em todo o mundo.
Segundo o artigo, as mulheres representam menos de 1⁄4 dos trabalhadores deste setor. Esta baixa participação feminina tem consequências como o prejuízo à diversidade e à inclusão de novas especialistas. Isto faz com que a possibilidade de ter uma área nuclear mais ampla dentro das ciências em geral seja reduzida.
Em 2020 realizamos, no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares – IPEN, uma pesquisa sobre gênero, a fim de identificar o perfil social cultural das mulheres da própria instituição. Publicamos em um artigo chamado “Study on the sociocultural profile of women working in a Brazilian nuclear area” (Estudo sobre o perfil sociocultural das mulheres que trabalham em uma área nuclear brasileira). Foi uma parceria entre a Women in Nuclear – WiN (Mulheres no setor Nuclear), representada pela presidenta naquele momento, Dra. Nélida Del Mastro e pelo IPEN, no qual participamos como corpo discente, junto com Karolina Suzart e Priscila Rodrigues (estudantes de mestrado no IPEN na época).
Nesta pesquisa foi possível identificar que 83,7% eram mulheres brancas, 9,6 % negras (pretas e pardas), 6,7% asiáticas e nenhuma identificada como indígena; 61% das mulheres tem idade de 18 a 45 anos de idade; mais de 50% das mulheres já foram ou são supervisionadas por homens; 40% das mulheres estão atuando na interdisciplinaridade das ciências da saúde com as ciências nucleares e apenas 7,6% ocupavam cargos de gestão e liderança.
A organização global WiN, apoia e incentiva mulheres dentro das ciências nucleares desde 1992. Em 1998, surgiu o capítulo WiN-IAEA, que visa estabelecer e manter uma rede para mulheres que trabalham lá e em instituições vinculadas. Esta rede é formada por mulheres de todas as etnias, culturas e países. Por exemplo, a atual gestão no Brasil tem como presidenta Danila Dias e como vice-presidenta Jaqueline Calábria.
Um dos grandes incentivos que existem atualmente é o Programa de Bolsas de Estudos para Mulheres da IAEA, voltado para aquelas que estão inscritas num programa de mestrado dentro das ciências nucleares.
Chamado de Marie Sklodowska-Curie Fellowship Programme, o programa homenageia a física e química polonesa – naturalizada francesa – que conduziu pesquisas pioneiras sobre radioatividade e foi responsável pela descoberta dos elementos químicos Rádio e Polônio. Foi ganhadora de dois prêmios Nobel e é a simbólica representação feminina do setor nuclear.
Dessa forma, podemos ver como a Win Brasil tem um papel fundamental na coletividade e apoio às mulheres do setor nuclear brasileiro: realizar difíceis tarefas como a de desmistificar a área nuclear e empoderar mulheres.
Podemos citar, como uma das formas de trabalho mais eficientes, a que tem sido realizada nas redes sociais (Instagram, Facebook, WhatsApp e LinkedIn) que permite firmar a unidade social e equidade de gênero. Tudo isso nos moveu a começar a ocupar eventos científicos nucleares e ver grandes pioneiras em suas participações, abordando temáticas sobre gênero.
Como resultado destes avanços, pudemos nos reunir presencialmente em agosto de 2022, quando aconteceu o I Encontro de Mulheres do Setor Nuclear, na International Joint Conference RADIO 2022 – evento que reuniu empresas renomadas do setor público e privado, como a Eletronuclear, CNEN, universidades federais e instituições de pesquisas. Neste mesmo evento, foram realizadas apresentações de trabalhos com uma linha de pesquisa específica para gênero e diversidade.
Atualmente, também está em andamento um novo estudo de maior abrangência direcionado para as mulheres vinculadas à instituição de ensino, pesquisa e desenvolvimento tecnológico que atuam no setor nuclear em todo o território nacional, está inclusa a pesquisadora Camila Engler (estudante de doutorado do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear – CDTN), que contribui para os estudos que mencionamos aqui.
Espero que, cada vez mais, estes estudos possam nos entender como mulheres atuantes e pensar em políticas públicas para que esse número seja cada vez maior, preenchendo a grande lacuna neste setor.