A imaginação é a grande aliada dos criadores de universos. Seja nos games, nos quadrinhos, nos filmes, nos livros, sem o exercício criativo de grandes gênios que pensaram mundos ficcionais, a história da humanidade definitivamente não seria a mesma.
Eles estão representados no nosso imaginário, de forma que não só no mundo real, mas, na própria ficção, eles existem e não são poucos. Em “Jogos Vorazes”, o personagem Seneca Crane é o idealizador-chefe do projeto Gamemakers, que controla os Jogos Vorazes. Eles projetam a arena e os equipamentos, bem como os animais no cenário da arena. O clássico “Matrix” traz o memorável Arquiteto, que apresenta a sua criação para Neo em sua sala cheia de telas com as diversas versões da matrix. Em “A Origem”, Ariadne é a arquiteta. Seu principal trabalho é criar o mundo sonhado da forma mais coerente e real possível.
Criar um universo ficcional implica em fazer escolhas a todo momento. Borges diz “em todas as ficções, cada vez que um homem se defronta com diversas alternativas, opta por uma e elimina as outras”. Este é o trecho do seu conto “O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam”, de 1941, no qual o autor conta a história de mais um criador, chamado Ts’sui Pen, que, ao passar por essa situação durante o processo criativo de um labirinto, escolhe todas as opções e cria uma espécie de multiverso, com todas as versões que poderiam ter acontecido naquele espaço, em diversos tempos. Sem saber, Borges imaginou a hipótese dos “muitos-mundos”, que seria desenvolvida pelo físico Hugh Everett mais de 10 anos depois, em 1957.
Nos games, grandes gênios de construção de universos fizeram do nosso mundo um lugar melhor, como o imprescindível Shigeru Miyamoto, que criou “Super Mario”, “The Legend of Zelda” e “Donkey Kong”. Will Wright, criador de “The Sims” e “SimCity”, David Jones e Mike Daily, criadores de “Grand Theft Auto”, Markus Persson, com “Minecraft”, e Amy Hennig, diretora criativa e escritora de “Uncharted”.
Rhianna Pratchett, escritora dos jogos “Tomb Rider” e “Overlord”, é filha de Terry Pratchett, um dos maiores criadores de universos de fantasia: a cômica série de livros “Discworld”. Me pergunto como foram as conversas em família!
Não é uma tarefa rápida, exige a dedicação de pensar em muitas características. Se é uma cidade ou vila, ou um mundo completo. O tipo de relevo, paisagem, o clima, os habitantes, os objetos, a política. O nível de dedicação à criação pode gerar até mesmo dialetos complexos, como o “Klingon”, de “Jornada das Estrelas” ou o “Quenya” e o “Sindarin”, de J. R. R. Tolkien, em o Senhor dos Anéis.
A capacidade de imaginar, de ir além da realidade, é o principal pilar da ficção. Para além da imaginação, nos universos literários, por exemplo, que descrevem os mundos a partir de palavras, é preciso que a linguagem crie pontes para quem lê.
Ursula Le Guin, ao falar de seu trabalho como escritora diz que “os leitores, afinal, estão fazendo o mundo com você. Você lhes dá os materiais, mas são os leitores que constroem esse mundo em suas próprias mentes.”
Grandes criadores de universos que se dedicaram a cidades ficcionais nos entregaram verdadeiras pérolas memoráveis. Para citar algumas das mais famosas que estão no imaginário popular e na cultura pop, podemos pensar em “Gotham City”, do “Batman”, “Metrópolis”, do “Super-Homem”, “Sin City”, de Frank Miller, “Porto Real”, de “Guerra do Tronos”, “Springfield”, dos “Simpsons”, “Bedrock”, dos “Flintstones”, até mesmo “Dogville”, de Lars von Trier.
Graças aos criadores de mundos, podemos navegar e conhecer universos criativos para além da realidade, embora muitos busquem a verossimilhança para desenvolver suas histórias. É a partir do real que se cria a ficção. Os elementos e símbolos utilizados precisam ter significado para nós, tanto a partir de objetos concretos, como de afetos e sentimentos que se conectam a nossa experiência no mundo real.
Como disse Stephen King: “Crianças, ficção é a verdade dentro da mentira, e a verdade desta ficção é bastante simples: a magia existe”.
O olho vê, a lembrança revê
e a imaginação transvê.
É preciso transver o mundo”– Manoel de Barros