Há 25 anos, comecei a minha caminhada pelo universo da economia e, aos poucos, a vida foi me levando para a área de pesquisa e ensino, movida por um desejo profundo de mudar a sociedade para alcançar a justiça social e transformar o mundo em um lugar melhor. Na sala de aula, sempre encontrei um espaço de criação e transformação, de troca e aprendizado. Porém, na parte da pesquisa a coisa nunca foi tão fácil. Era difícil me sentir parte, quando sentia que as ideias e reflexões econômicas dificilmente dialogavam comigo. A grande maioria dos que falavam eram professores, homens brancos, que só nomeavam o seu famoso homo economicus… mas cadê a mulher, eu pensava? Nunca estudávamos economistas mulheres, nunca tínhamos referentes acadêmicas femininas, nunca a teoria falava de nós, das nossas vivências, das nossas experiências, dos nossos lugares nesse mundo. Mas, aos poucos, as coisas foram mudando.
Nos últimos anos fui descobrindo a economia feminista, vertente do pensamento econômico que procura colocar no centro da análise a sustentabilidade da vida, indo além do entendimento de mercados e lucros. Ensinar, pesquisar e fazer extensão a partir desse pensamento e práxis de transformação, através do Economia e Feminismos e o NuEFem (Núcleo de Estudos e Pesquisa de Economia e Feminismos do Instituto de Economia/UFRJ), transformou-me. Achei um lugar onde a minha vida podia dialogar com a minha pesquisa. A procura por entender as múltiplas formas de opressão e exploração que vivenciam corpos feminizados e racializados trouxe aquilo que faltava. Através do estudo da divisão sexual e racial do trabalho, dos papéis sociais de gênero e da economia dos cuidados, como elementos estruturais e estruturantes do capitalismo neoliberal patriarcal, comecei a mergulhar também nas obras do feminismo decolonial, da teoria da reprodução social, do feminismo marxista, do feminismo interseccional, dos feminismos subalternos, entre outros. Assim, hoje acredito profundamente que para pensar caminhos emancipatórios, formas de superação da exploração (de corpos, trabalhadoras e trabalhadores, seres vivos, territórios e natureza) e para ter um entendimento profundo sobre o funcionamento do capitalismo, no contexto do sistema do mundo moderno colonial de gênero, é necessário incluir os olhares dos feminismos dentro da economia.
Nome
Margarita Oliveira
Titulação
Doutora em economia
Atuação
Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas de Economia e Feminismos – NuEFem/IE/UFRJ.
Pesquisa
A reprodução social e a organização dos cuidados: a situação das mulheres no Brasil.